sábado, 31 de dezembro de 2016

D. Sancho II "O Capelo" (1223 – 1248)

D. Sancho II
Sancho II nasceu em Coimbra, em 8 de setembro de 1209. Em 1222, seu pai Afonso II já revelava graves problemas de doença, e com a sua morte, na primavera de 1223, Sancho II acaba por assumir a coroa com provavelmente apenas 13 anos de idade. O reino português atravessava uma profunda crise económica, em virtude das más colheitas agrícolas e das pilhagens sucessivas, dado que Portugal ainda enfrentava períodos de guerra. Além do mais, o seu pai, Afonso II, fora excomungado pelo Papa Honório III. E Sancho II, sendo menor de idade, não poderia governar, ficando um conjunto de nobres comandar os destinos do reino durante os primeiros anos. Sancho II aproveitou então para firmar a paz com D. Estêvão Soares da Silva, Arcebispo de Braga, e um dos mais poderosos senhores de toda a península ibérica, sendo na altura o bispo mais importante de Portugal. Os conflitos com D. Estêvão iniciaram no reinado de Afonso II, visando quebrar a influência do arcebispo a norte, onde D. Afonso II menos controlava o país, com amplos benefícios concedidos ao clero, como por exemplo, diversas isenções fiscais. D. Afonso II iniciou uma violenta disputa que envolveria a destruição dos bens do arcebispo, forçando este ao exílio. Esta disputa conduziria mais tarde à excomunhão do rei. O Papa Honório III chegou mesmo a pedir ajuda ao rei de Leão, Afonso IX, para que auxiliasse o arcebispo e ameaçou Afonso II de invalidar o reino de Portugal, tornando-o desta forma vulnerável a invasões e conquistas de outros reis católicos. Só a assinatura da concórdia com a Igreja, no reinado de Sancho II, permitira alcançar alguma paz no reino de Portugal. Após a relação com a Igreja estar normalizada, Sancho II dedicou-se à governação dos assuntos gerais do reino, concedendo diversos forais e relançando a reconquista portuguesa. Como o Rei não era tido como um grande líder militar, a reconquista neste período haveria de ser principalmente impulsionada pelo Papa Gregório IX, que concederia a Sancho II, ao contrário do que aconteceu com seu pai, um mandato especial para que não fosse possível a sua excomungação a não ser diretamente pela Santa Sé, desde que o Rei persistisse na guerra contra os muçulmanos. De facto, seriam as Ordens Militares, como a de Santiago, que impulsionariam a reconquista, tendo estas recebido o direito a diversas povoações como Aljustrel, Mértola, Sesimbra e Tavira, deixando Sancho II cada vez mais dependente das Ordens Militares. Em 1234 e 1241 foram emitidas bulas papais de Cruzada para o reino de Portugal, e as Ordens Militares viriam também a gozar de mais privilégios como a doação de terras e castelos para o povoamento de zonas mais desertas. Neste período, praticamente todo o Alentejo seria conquistado. Após algumas conquistas militares, Sancho II decidiria trocar de conselheiros do reino, uma troca que se revelaria fatal para os destinos do seu reinado, tendo o reino enfrentado então um período de anarquia, opondo o clero à nobreza. Neste período, tanto os bispos do Porto e de Lisboa acusariam D. Sancho II de ser incapaz de travar os conflitos entre o clero e a nobreza e de defender os interesses da Igreja, pelo que o Papa seria obrigado a intervir, com a emissão de uma bula que favorecia a restauração da força do poder do Rei, por uma nova figura capaz de comandar os destinos de Portugal. Essa figura seria D. Afonso, príncipe de Portugal, e futuro D. Afonso III, que à época vivia em Bolonha. D. Afonso chegaria a jurar, mais tarde, que salvaguardaria e defenderia todos os privilégios concedidos a todos os agentes do reino, levando a que Portugal entrasse em breve num período de guerra civil, com a chegada de Afonso a Lisboa em 1245. Antes, D. Sancho II acabaria por se casar (em 1241 ou 1242) com Mécia Lopes de Haro, nascida no seio de uma família nobre de Leão e Castela, sendo a sua mãe bastarda de Afonso IX de Leão. Este seria o segundo casamento de D. Mécia, e além disso um casamento não autorizado pelo Papa, algo que contribuiu rapidamente para a mesma ser rejeitada pela nobreza, clero e pelo povo português. Por um lado, porque D. Mécia não traria nenhum benefício ou interesse direto à Coroa Portuguesa (afinal, era apenas descendente de uma família nobre, e não da família real), para além de ter insistido em rodear-se de aias e criados castelhanos. O clero português surgiu assim interessado em acelerar a queda do Rei, e começaria a planear com D. Afonso, irmão de D. Sancho II, a queda do Rei. O facto de D. Mécia não conseguir dar herdeiros ao Rei, foi um dos pretextos utilizados para que o matrimónio fosse anulado prontamente. Em representação papal, em 1245, D. Afonso, irmão mais novo do Rei, denuncia o casamento do seu irmão. D. Sancho II que aceitaria tornar inválido o seu matrimónio, ainda assistiria, no Verão de 1245 à publicação de duas bulas, a primeira dirigida aos barões do reino e a segunda aos prelados, decretando unanimemente a deposição do Rei. O reinado entra numa espécie de guerra civil, e D. Afonso, em 1246, toma Santarém, Alenquer, Leiria, Tomar e outras cidades da zona. Sancho II fortifica-se em Coimbra. Covilhã e Guarda são as próximas cidades a cair. Sancho II tomou a iniciativa de procurar o auxílio de Castela, o que levaria à mobilização dos castelhanos para invadir Portugal em dezembro de 1246 e em janeiro do ano seguinte para defrontar os exércitos de D. Afonso. Mas sob pressão da Santa Sé, e após decisão do Papa Inocêncio IV em excomungar D. Sancho II, Afonso de Castela decidiria retirar este de Portugal, acabando assim com o período de guerra civil no país e entregando o poder a D. Afonso. D. Sancho II, constrangido, viu-se obrigado a exilar. A morte do Rei aconteceria em 1248 em Toledo, onde Sancho II se exilaria frustrado e humilhado pelos acontecimentos ocorridos em Portugal. A crise de 1245 mostrou-se fatal para Sancho II, mas permitiria abrir um novo capítulo na história portuguesa.

Principais pontos a destacar na governação de D. Sancho II:
• Opta por firmar a paz com a Santa Sé e o Arcebispado de Braga;
• Atribui diversos forais e conquista o Alentejo;
• A reconquista é impulsionada pelas Ordens Militares recebendo estas vários privilégios em troca;
• O seu casamento com D. Mécia inicia uma guerra civil entre D. Sancho e o seu irmão D. Afonso, que terminaria com a vitória deste último.

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