sábado, 31 de dezembro de 2016

D. Afonso Henriques "O Conquistador" (1143 - 1185)

D. Afonso Henriques
D. Afonso Henriques ou Afonso I foi o primeiro rei de Portugal e o pai da nacionalidade portuguesa. Filho de pai francês, D. Henrique de Borgonha e de mãe Galega, D. Teresa de Leão, nasceu provavelmente em 1109, em local incerto, embora as várias teses apontem Guimarães, Viseu e Coimbra como os sítios mais prováveis. Seus pais eram condes do Condado Portucalense, um condado sob alçada do reino de Leão. O Reino de Leão foi um dos principais reinos ibéricos surgidos no período da reconquista cristã. Foi constituído em 910 com a divisão do Reino das Astúrias pelos filhos do Rei Afonso III: Garcia, ficou com o Reino de Leão, Ordonho com a Galiza e Fruela com as Astúrias. Mais tarde, os reinos seriam outra vez reunificados no Reino de Leão. Em 1037, Bermudo III, o novo Rei de Leão foi derrotado e morto em batalha por Fernando I de Castela, sendo que Fernando I de Castela passou a ser designado por Fernando Magno, Rei de Castela e Leão. Fernando Magno morreria em 1065, deixando o Reino de Castela e Leão dividido em 3 partes, uma para cada filho: Sancho ficou com Castela, Afonso com Leão e Garcia com a Galiza. Afonso viria a combater ferozmente os seus irmãos, e acabando por os dominar, reunificaria todos os reinos. Afonso VI de Leão proclamou-se então imperador de toda a Espanha, sendo a capital do novo império a velha cidade de Leão. Esta situação manteve-se ao longo dos reinados de Urraca, filha de Afonso VI de Leão, e seu neto Afonso VII. O Reino de Leão só viria a findar em 1230, quando Fernando III de Castela, filho de Afonso IX de Leão, se apoderou do trono que pertencia às legítimas herdeiras, as filhas de Afonso IX de Leão e suas meias-irmãs, pondo cobro à Dinastia de Borgonha, que governou o reino entre 1126 a 1230. O Condado Portucalense, por sua vez, foi fundado em 868, sendo o seu primeiro conde Diogo Fernandes. Já no final do século X, e com Gonçalo Mendes, os condes portugueses passariam a ostentar o título de duques. Isto implicou um reforço da influência dos Duques junto da monarquia de Leão, tendo mesmo um dos Duques portugueses sido regente do reino entre 999 e 1008. O território do condado portucalense haveria de ser novamente integrado no Reino da Galiza em 1071. Só voltaria a reemergir após 1093, pela mão de Henrique de Borgonha, após a oferta do condado pela mão do Rei Afonso VI de Leão, pelo auxílio concedido na reconquista das terras aos mouros, tendo também recebido como dote a mão da sua filha, a infanta D. Teresa de Leão. O agora conde D. Henrique introduziu-se ambiciosamente na política do Reino de Leão, conquistando algum poder junto das cortes. Sendo subordinado do Rei, o conde tinha amplos poderes administrativos, judiciais e militares, e o seu pensamento seria progressivamente orientado para a obtenção da completa autonomia. Assim, a fim de aumentar a população e valorizar o seu território, D. Henrique atribuiu diversos forais, e atraiu para Guimarães, com várias regalias, muitos compatriotas seus. Fixada residência em Guimarães, assim se manteria por mais algum tempo a influência de D. Henrique e o seu jogo de poder. Com o seu falecimento, em 1112, passou a viúva deste, Teresa de Leão, a governar o condado até que o seu filho Afonso Henriques atingisse a idade adulta. D. Teresa envolve-se a certa altura com Fernão Peres de Trava, fidalgo galego, a quem entregou a governação dos distritos do Porto e Coimbra, o que despertou um sentimento de revolta entre os Portucalenses e do seu próprio filho, que sendo afastados da gestão do condado, geraram um escalar de tensão crescente. Em 1120, com a influência do clero nacional, nomeadamente o arcebispo de Braga D. Paio Mendes, Afonso Henriques decide tomar uma posição política oposta à mãe, passando a apoiar os independentistas. A tensão crescia, e o arcebispo foi obrigado a deixar o condado, levando consigo o infante Afonso Henriques. É então que aos catorze anos de idade, Afonso Henriques arma-se a si próprio cavaleiro, seguindo o próprio costume dos reis, e torna-se um guerreiro independente (1125). Afonso regressa ao condado mas recusa-se a prestar vassalagem a Afonso VII de Leão e Castela, forçando este último a invadir o Condado Portucalense em 1127. É então que Egas Moniz, aio do jovem Afonso, promete a lealdade do mesmo ao Rei Afonso VII, fazendo este desistir da ideia de conquistar a cidade de Guimarães. Mas alguns meses depois, a 24 de junho de 1128, Afonso Henriques trava a Batalha de São Mamede (em Guimarães), onde defronta a sua própria mãe e as tropas do Conde galego Fernão Peres de Trava. Com a vitória, Afonso Henriques torna-se conde, e D. Teresa e Fernão Peres abandonam o governo do condado, algo que desagradou ao Bispo de Santiago de Compostela que cobiçava o domínio das terras. Sentindo a tensão que esta situação estaria a produzir, D. Afonso Henriques decide concentrar esforços em obter rapidamente o reconhecimento do condado como Reino. É assim que a 25 de julho de 1139, D. Afonso Henriques vence a batalha de Ourique e proclama-se Rei de Portugal. A Batalha nem estava prevista, e aconteceu supostamente devido a uma incursão que os cristãos fizeram nas terras povoadas de mouros, para apreenderem gado, escravos e outros bens. Inesperadamente, um exército mouro em muito maior número saiu ao encontro das forças lideradas por D. Afonso Henriques. Mas apesar da inferioridade numérica, D. Afonso Henriques conseguiu vencer, o que contra todas as hipóteses fez com que as tropas ainda no campo de batalha o aclamassem como rei. A independência de Portugal seria reconhecida apenas em Zamora, a 5 de outubro de 1143, quando o rei D. Afonso VII e o seu primo D. Afonso Henriques assinariam um tratado que viria reconhecer o futuro primeiro Rei de Portugal. Este Tratado foi conseguido em certa medida pela ação desenvolvida pelo novo arcebispo de Braga, D. João Peculiar, que procurou conciliar ambos os primos e fez com que ambos se encontrassem em Zamora nos dias 4 e 5 de outubro de 1143, na presença do cardeal Guido de Vico, emissário do Papa Inocêncio II. D. Afonso VII continuaria a considerar que Afonso Henriques seria seu vassalo, pois era seu desejo continuar a ostentar o título de imperador de toda a Hispânia, e para isso necessitaria de ter reis como vassalos. Mas o novo monarca português acabou por comprometer-se em ser vassalo da Santa Sé, obrigando-se a si e aos seus descentes a um pagamento anual, e fundando diversos conventos para agradar à Santa Sé e ao clero. Afonso Henriques, na sequência, escreve ao Papa Inocêncio II, reclamando o estatuto de “Censual”, ou seja, a dependência apenas da vontade de Roma, algo que seria suficiente, na altura, para o efetivo reconhecimento de Portugal como nação independente (dado que nenhum vassalo poderia ter dois senhores diretos, ficando o Rei de Portugal a prestar vassalagem direta à Santa Sé). Afonso também procurava a plena autonomia para a Igreja portuguesa, e para esse efeito, Afonso Henriques invocaria ao Papa o “milagre de Ourique”, onde supostamente teria recebido uma visão, em que pela graça de Deus os portugueses estariam aptos para vencerem os infiéis. É o Papa Alexandre III, através da bula Manifestis Probatum, que acabaria por reconhecer a independência do país em 1179, talvez fruto do poder de persuasão de Afonso Henriques. Mas como isto aconteceria quase 40 anos depois da assinatura do Tratado de Zamora, Afonso Henriques optou por não perder tempo e avançou para a conquista de mais território de modo a expandir o seu futuro reino. Leiria é conquistada definitivamente em 1145. Santarém é tomada por completo dois anos depois. E é já em 1147, que Afonso Henriques conquistou Lisboa, com o apoio de cruzados do norte da Europa, cruzados esses que participariam na Segunda Cruzada Cristã (convocada pelo Papa Eugénio III), e que auxiliaram no único sucesso dessa campanha. Os primeiros contingentes de cruzados saíram de Inglaterra a 19 de maio, e participavam nesta missão flamengos, normandos, ingleses e escoceses, principalmente. A armada de cruzados chegou ao Porto a 16 de junho, e foi o Bispo do Porto que convenceu os cruzados a juntarem-se à operação militar conduzida por Afonso Henriques, mais uma vez mostrando a grande influência que o clero nacional exercia não só junto do Rei mas também junto do Papa e das decisões que ditariam o futuro do Reino. Afonso Henriques que antes de conquistar Lisboa conquistou Santarém, seguiu por terra rumo a Lisboa, enquanto os cruzados penetraram a foz do Rio Tejo por barco. A conquista de Lisboa seria decisiva para consolidar a linha do Tejo e garantir a independência de Portugal, afastando os receios das forças de Leão poderem voltar a atacar, já que o domínio do Vale do Tejo garantia o acesso a terrenos férteis e à autossuficiência de Portugal. A primeira batalha terá ocorrido em Sacavém onde as forças de Afonso Henriques, em menor número, enfrentaram um primeiro exército de cinco mil muçulmanos. As forças de Afonso Henriques terão conseguido tirar a vida a cerca de três mil muçulmanos, numa batalha que contra todas as probabilidades deu a vitória aos cristãos, pois o seu número de mil e quinhentos homens era bastante inferior ao do adversário. A miraculosa vitória foi, na altura, atribuída à intervenção da Virgem Maria, pois teria contribuído com a chegada dos cruzados que ajudaram no combate contra os mouros. Terminada a sangrenta batalha, ambas as forças, portugueses e cruzados, atacaram a Oeste da colina sobre a qual se ergue hoje a Baixa Lisboeta, e tanto esta colina como a colina a leste seriam rapidamente dominadas pelos cristãos. As forças cristãs tiveram grandes dificuldades em penetrar as muralhas de Lisboa, conseguindo apenas o feito em outubro, quando os cristãos conseguiram abrir uma brecha na muralha e conseguiriam penetrar. As forças muçulmanas, já muito desgastadas pela fome e pelas doenças acabariam por capitular a 20 de outubro. Alguns dos cruzados acabariam por estabelecer-se em Lisboa, entre os quais o futuro Bispo da cidade, Gilbert de Hastings. Internamente, o reino foi sendo pacificado, ao mesmo tempo que as fronteiras eram expandidas até ao Alentejo, mais que duplicando o tamanho original do condado portucalense. Afonso conquista Almada e Palmela também em 1147, Alcácer em 1160 e depois quase todo o Alentejo. De 1166 a 1168, Afonso Henriques conquista inclusivamente várias cidades pertencentes ao Reino de Leão. Fernando II de Leão encontrava-se a repovoar Ciudad Rodrigo, e Afonso Henriques, suspeitando que o seu genro se preparava para o atacar, decidiu enviar um exército comandado pelo seu filho, o infante D. Sancho. Fernando II sabendo da iniciativa foi em auxílio da cidade ameaçada e derrotou as tropas portuguesas, fazendo um grande número de prisioneiros. Em resposta, Afonso Henriques invadiu a Galiza e tomou Tui, em 1169 atacou Cáceres e depois voltou-se contra Badajoz, que na altura, embora controlada pelos muçulmanos, já pertencia à coroa de Leão por um acordo entre estes e o reino de Castela. Fernando II de Leão deixou que os portugueses cercassem os mouros para depois os atacarem e recuperarem a cidade para Leão. Afonso Henriques terá sido ferido pelo exército de Leão, e feito prisioneiro, obrigando mais tarde à assinatura do tratado de paz de Pontevedra, em virtude do qual Afonso Henriques seria libertado com a condição do Reino de Portugal devolver ao Reino de Leão várias cidades como Cáceres, Trujillo, Santa Cruz entre outras. Com o Tratado de Pontevedra, estabeleciam-se assim, as fronteiras de Portugal com Leão e Galiza. Este acordo foi de especial importância, porque mais tarde, quando os muçulmanos irromperam novamente contra Santarém, o exército de Leão ajudou o português na luta contra os mouros. O incidente de Badajoz resultou praticamente no fim da carreira militar de Afonso Henriques. A partir daí, o Rei dedicou-se à administração dos seus territórios com a regência em simultâneo do seu filho D. Sancho. Procurou fixar a população, promoveu a constituição de municípios e concedeu vários forais. Contou com a ajuda das ordens religiosas para o desenvolvimento da economia nacional, predominantemente agrícola na altura. Afonso Henriques deixou um legado importante para o país: fundou a nossa nacionalidade, tendo a mesma sido reconhecida não só pelo papado mas também por vários reinos da Europa; conseguiu estabelecer fronteiras com Leão e Galiza, enquanto pacificou o reino e alargou as fronteiras até sul; apoiou as ordens religiosas e fundou diversos mosteiros e conventos (em particular, o Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra, onde ele e o seu filho estão sepultados); optou pela boa relação com os judeus, tendo nomeado o grão-rabino Yahia Ben Yahia para seu Ministro das Finanças, responsável pela coleta de impostos no Reino de Portugal. Esta escolha marcou a tradição de escolher judeus para a área da administração financeira em Portugal, e serviu também para conseguir manter uma boa relação com as comunidades judaicas, boa relação essa que se manteve nos futuros reinados. D. Afonso Henriques viveu uns impressionantes 76 anos, conquistou grande parte do atual território continental português, e as suas proezas foram de tal forma épicas, que ficou conhecido como o Rei “Conquistador”. Faleceu a 6 de dezembro de 1185 e deixou o seu filho, D. Sancho I, no trono do seu Portugal.

Principais pontos a destacar na governação de D. Afonso Henriques:
• Funda a nacionalidade portuguesa, conseguindo o reconhecimento da Santa Sé para a sua causa e a paz com os reinos vizinhos;
• Expande o seu território o mais a sul possível, conquistando várias posições no Alentejo às forças muçulmanas;
• Cria vários municípios por todo o país e funda diversos mosteiros e conventos;
• Promove as relações com os judeus e escolhe-os para administrar as finanças do reino.

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