sábado, 31 de dezembro de 2016

D. João III "O Piedoso" (1521 - 1557)

D. João II
D. João III era filho de D. Manuel I e de Maria de Aragão, princesa de Espanha e filha dos reis espanhóis. Subiria ao trono com 19 anos, sucedendo ao pai que falecera aos 52 anos, em pleno auge do seu poder. Manteve a equipa governativa de seu pai em funções, numa aposta de estabilidade e continuação da política de então. Na época, Portugal já se destacava como potência europeia a nível económico e militar, mesmo para um país onde a sua população era inferior a um milhão e meio de habitantes. D. João III era tido como um rei extremamente religioso, e subserviente à vontade e poder da Igreja, tendo sido no seu reinado que a Inquisição se implementaria em Portugal, no ano de 1536, assim como a recém-criada Companhia de Jesus, fundada dois anos antes, em 1534, em Paris, pelo basco Inácio de Loyola, a quem o Rei D. João III entregaria a missão de evangelizar o Oriente, o Brasil e a África. Já a Inquisição era uma resposta da Igreja Católica à Reforma Protestante iniciada por Martinho Lutero na Europa. Lutero no ano de 1517 haveria de publicar as suas 95 teses contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica Romana, tendo recolhido largo apoio de diversos governos europeus, e provocando uma revolução religiosa na Alemanha (o início), Suíça, Países Baixos, Escandinávia e outros. A resposta da Igreja Católica ficou conhecida como a Contrarreforma ou Reforma Católica, iniciada no Concílio de Trento, convocado pelo Papa Paulo III. O Concílio de Trento foi o concílio mais longo da história da Igreja, e haveria de se traduzir em grandes impactos na vida dos católicos e da própria Igreja, especificando as doutrinas quanto à salvação e os sete sacramentos, a liturgia, unificando o ritual da missa de rito romano, instituindo o celibato clerical e a hierarquia católica, o culto dos santos, das relíquias e das imagens, regulando as obrigações dos bispos, criando seminários nas dioceses e reorganizando a Inquisição. Os impactos em Portugal fizeram-se notar de imediato, especialmente com a Inquisição. As consequências sociais revelaram-se devastadoras em Portugal, tendo muitos mercadores judeus abandonado o país, o que levou Portugal a perder capacidade financeira e sendo obrigado a aceder a empréstimos estrangeiros. Durante o reinado de D. João III, Portugal adquiriu novas colónias na Ásia como Chalé, Bombaim, Diu, Baçaim e Macau. Além do mais, foi com D. João III que os portugueses se tornam os primeiros europeus a chegar ao Japão. Mas D. João III havia herdado um império vastíssimo e extremamente fragmentado, tendo decido proceder a uma reavaliação do projeto de expansão lançado por seu pai, D. Manuel I, o qual, e fruto das inúmeras guerras locais e custos de gestão, optou por vir a abandonar. Entregou a Vasco da Gama a pasta relativa aos assuntos da expansão marítima, nomeando-o também vice-rei da Índia em 1524. O império português começou a ser vítima de investidas sucessivas por parte dos muçulmanos no norte de África. Os xerifes locais haviam proclamado já em 1518 uma guerra santa contra os portugueses, tendo conseguido apoderar-se de Marraquexe em 1524, e em 1533 cercaram Safim, obrigando D. João a abandonar Arzila, Azamor, Safim e Alcácer-Ceguer, devido aos elevados custos implicados na defesa destas praças. No Oceano Índico, os portugueses continuaram a enfrentar a ameaça otomana, levando a que Pacém e Calecute fossem abandonados. A Rota do Cabo começou a tornar-se menos rentável, pois a rota do Levante começaria a recuperar novamente o seu fulgor fruto das sucessivas perdas de possessões territoriais portuguesas, que inviabilizavam o monopólio das especiarias. Em 1548, 50 anos após a chegada dos portugueses à Índia, João III ordenaria o fecho da feitoria de Antuérpia. Na altura, a concorrência espanhola e francesa no Extremo Oriente e Pacífico já era feroz, pelo que a manutenção destas feitorias revelava-se pouco eficiente. Para compensar estar perdas territoriais, o Rei D. João III procuraria reforçar as relações comerciais com a Inglaterra, apostando também no reforço das relações comerciais com os países Bálticos e a Flandres. Com a França, o Rei D. João III opta por uma política mais neutral, mas mantém-se firme contra os corsários franceses. Com a Espanha promove o estabelecimento de alianças e casamentos, casando as suas filhas D. Isabel com Carlos V e D. Maria com o futuro rei D. Filipe II. A atividade diplomática desenvolvida pelo Rei D. João III seria, muito provavelmente, a mais intensa de toda a segunda dinastia portuguesa. Além da crise na proteção do império português, D. João III foi um Rei que teve de gerir muitas outras crises: a financeira, pois o seu reinado estava pressionado com as grandes obras encomendadas pelo seu pai D. Manuel, para além das despesas extraordinárias como a defesa das praças do Norte de África (algumas das quais tiveram mesmo de ser abandonadas, como já referido), as expedições marítimas à Índia para manter os fluxos de comércio da rota do cabo, a defesa das costas do Brasil e África e a aquisição de trigo devido aos maus anos agrícolas e à instabilidade meteorológica sentida na altura em Portugal, que levaram à proliferação da peste. D. João III teve ainda de lidar com a crise gerada pelo terramoto de Lisboa de 26 de janeiro de 1531, um terramoto seguido de tsunami, que resultou em aproximadamente 30 mil mortos. Estima-se que um terço das edificações de Lisboa tenham sido destruídas, incluindo o Paço da Alcáçova e a Igreja de São João. Por todos estes motivos, D. João III optou por concentrar a gestão do seu império principalmente no Brasil. Foi ele que iniciou a sua colonização e que criou o sistema de Capitanias-hereditárias no Brasil em 1534, estabelecendo um governo central em 1548. Esta aposta revelar-se-ia muito acertada, pois o Brasil viria rapidamente a afirmar-se como a joia da coroa do império português, desempenhando esse papel durante mais de dois séculos e até à sua independência. É também durante o seu reinado que surgem inúmeras figuras que ficariam notavelmente conhecidas na nossa história, também pelo apoio que o Rei acaba por atribuir à cultura humanista: Luís Vaz de Camões, Garcia de Resende, João de Barros, Pedro Nunes, Garcia da Orta, Francisco de Holanda, Diogo de Gouveia e Damião de Góis, entre muitos outros, conseguiram a afirmação pessoal nas diversas áreas onde trabalhavam, durante este reinado. D. João III deu um novo impulso à Universidade de Coimbra, e criou o Real Colégio das Artes e Humanidades em 1542, com o objetivo de preparar os estudantes para o ingresso na universidade. Este Real Colégio das Artes e Humanidades seria o percursor do ensino secundário em Portugal. D. João III lançou também diversas bolsas de estudo para financiar a ida de portugueses para o estrangeiro, nomeadamente para a França. A educação terá sido uma grande prioridade do Rei, pois o Real Colégio das Artes e Humanidades foi o primeiro de muitos outros colégios que seriam fundados nas principais cidades de Portugal. À parte destas iniciativas mais progressistas, o reinado de D. João III haveria de ficar marcado também pela vinda dos Jesuítas para Portugal, assim como pela instalação da Inquisição, que como já foi abordado, provocou a saída de muitos mercadores judeus, dificultando o progresso de Portugal e a competitividade do nosso comércio (dado que muitos mercadores se acabariam por se instalar nos Países Baixos, tornando estes um dos maiores concorrentes de Portugal). Também a nível interno, D. João III manteve a sua política absolutista e centralizadora de seu pai, convocando as cortes também por apenas três ocasiões: 1525, 1535 e 1544. É ainda no seu reinado que o Rei ainda assiste à ascensão de duas das maiores potências da altura: a Espanha de Carlos V e o Império Otomano (que chegaria a cercar Viena em 1529). O Rei viria a falecer em 1557 na sequência de um provável acidente vascular cerebral, deixando o reinado entregue ao seu neto, o futuro Rei D. Sebastião I. Todos os filhos de D. João III viriam a falecer primeiro que o próprio pai, sendo um dos motivos pelos quais a crise se instalaria em Portugal após o desaparecimento de D. Sebastião.

Principais pontos a destacar na governação de D. João III:
• Reavalia o império herdado por seu pai, tendo abdicado e perdido diversas possessões no Norte de África e no Índico;
• Inicia a colonização do Brasil e funda o sistema das capitanias;
• Enfrenta a crise desenvolvida pelo terramoto de Lisboa de 1531;
• Introduz a Inquisição em Portugal, algo que motivou a fuga de muitos mercadores judeus do país, o que provocaria um revés nas condições para a competitividade de Portugal;
• Introduz os Colégios em Portugal, os percursores do ensino secundário no nosso país;
• Desenvolve intensamente as relações diplomáticas de Portugal, procurando desenvolver novos acordos comerciais com outros países.

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