sábado, 31 de dezembro de 2016

D. Afonso VI "O Vitorioso" (1656 - 1683)

D. Afonso VI
D. Afonso VI não era o primogénito de D. João IV pelo que a sua formação foi pouco cuidada e a sua preparação para a governação era muito reduzida. No entanto, e como o seu irmão Teodósio faleceu a 13 de maio de 1653, o mesmo sucedendo a 17 de novembro do mesmo ano à sua irmã Joana, Afonso passaria assim a ser o herdeiro do trono de Portugal. A sua infância é também marcada por uma doença que lhe afetará permanentemente a parte direita do corpo, mas Afonso revelaria uma persistência notáveis e conseguiria sobreviver à doença. Com a morte de D. João IV em 1656, e com Afonso ainda em idade muito jovem, o infante apenas seria jurado rei de Portugal em novembro desse ano. A regência do reino passaria a ser assegurada pela sua mãe, D. Luísa de Gusmão, e esta centraria a sua ação governativa principalmente na organização do reino, mantendo os oficiais da Casa Real de D. João IV em pleno das suas funções de forma a assegurar alguma estabilidade. Na regência, D. Luísa também assiste ao continuar da Guerra da Restauração. Esta guerra, iniciada em 1640, apenas findaria em 1668 com o tratado assinado por Afonso VI de Portugal e Carlos II de Espanha, tratado esse que reconheceria a independência de Portugal. Para a história ficam os feitos dos exércitos portugueses, que por cinco ocasiões, e sempre em menor número que o exército espanhol, conseguiram derrotar o inimigo. Como por exemplo, a batalha que marcaria o início do ano de 1657. D. Luísa é informada que os espanhóis estariam a reunir tropas, em Badajoz, para invadir Portugal durante a Primavera. O exército espanhol, formado por cerca de 20 mil homens e liderado por D. Luís de Haro, conseguiria dominar a zona do Guadiana e conquistar as praças de Olivença e Mourão. Em janeiro de 1659 dá-se início a um novo cerco de Elvas. Cerca de 25% do exército espanhol era constituído por elementos da cavalaria sendo a restante composição repleta de batalhões de infantaria e artilharia, pelo que D. Luís de Haro manda entrincheirar as suas tropas para cercar Elvas de forma a cortar quaisquer abastecimentos de mantimentos. A par do cerco, abate-se um surto de peste sobre a população de Elvas, que terá causado cerca de 300 mortes por dia, em média. As tropas espanholas descarregam diariamente a sua artilharia sob a população, causando o pânico entre as pessoas. D. Luísa entrega a defesa de Elvas a D. António Luís de Meneses, conde de Cantanhede que reúne um exército de cerca de 10 mil homens. O plano é traçado: o ataque é feito em massa pela zona de Murtais, num único ponto de ataque para romper as linhas espanholas. O ataque é bem-sucedido e segundo alguns relatos os espanhóis chegam a perder mais de 5 mil homens na defesa da sua posição. A 13 de janeiro de 1659 os portugueses gritam vitória em Elvas, mas nem por isso os espanhóis desistiriam das suas pretensões para com a conquista do trono de Portugal. Afonso VI subiria ao trono de Portugal definitivamente a 22 de junho de 1662, terminando assim o período de regência da sua mãe. Esta subida ao trono fora facilitada por Luís de Vasconcelos e Sousa, terceiro conde de Castelo Melhor e uma das figuras mais influentes na corte portuguesa. Ávido de poder, preparou um golpe para destituir D. Luísa, e sendo extremamente bem-sucedido, viria o Rei Afonso VI delegar-lhe a gestão dos negócios do reino, um cargo semelhante hoje ao de primeiro-ministro, sendo-lhe por isso confiada a gestão da administração pública. Este viria a revelar-se também um grande estadista, dado o seu desempenho e firmeza na gestão das grandes batalhas contra os espanhóis durante o reinado de Afonso VI. Após a queda da regente D. Luísa, Portugal empreende um conjunto de esforços orientados para a diplomacia e o comércio internacional. É em 1661 que surge um novo tratado entre Portugal e Inglaterra, para apoio mútuo entre ambos os países, e Catarina de Bragança, princesa de Portugal é dada como futura esposa do Rei Carlos II de Inglaterra. Este acordo de casamento só viria a ser celebrado com recurso a um dote significativo que Portugal teria de entregar a Inglaterra, uma das exigências do Rei inglês (entre os benefícios da entrega deste dote, regista-se a oferta a Inglaterra das possessões de Tânger em Marrocos e de Bombaim na Índia). A França, que havia apoiado Portugal contra a Espanha na guerra da restauração da independência, não se opôs a este tratado entre Portugal e Inglaterra, mesmo sendo a Inglaterra seu rival. Luís XIV já governava a França e como mantinha de perto uma grande rivalidade com Espanha, o seu objetivo primordial acabaria por centrar-se em enfraquecer este seu inimigo a todo o custo. Com a Holanda, Portugal tenta firmar a paz para evitar novas conquistas holandesas no Brasil. E com a Santa Sé, o Papa Clemente IX acabaria por reconhecer Portugal como país independente mas apenas após a assinatura do tratado de paz com a Espanha. Mas após os intensos contactos diplomáticos, o ano de 1663 iniciaria uma nova série de confrontos envolvendo as tropas lusitanas. João de Áustria, filho bastardo do Rei de Espanha, decide invadir o Alentejo, e consegue tomar Évora. O exército português, liderado por Sancho Manuel, conseguiria repelir esta invasão, com uma série de batalhas que terminaria com a batalha de Montes Claros. As batalhas ocorreram no Ameixial (1663), Castelo Rodrigo (1663) e finalmente Montes Claros (1665), esta última onde o exército português seria comandado pelo Marquês de Marialva. Aqui, as forças portuguesas contavam com aproximadamente 20.500 homens, contra cerca de 22.500 do lado espanhol. O exército espanhol, comandado pelo Marquês de Caracena, planeava uma nova e ambiciosa invasão a Portugal, com o objetivo claro de conquistar Lisboa, tomando antes Vila Viçosa e Setúbal. Primeiro os espanhóis ocupariam Borba, e após tentarem ocupar também Vila Viçosa, encontraram a forte oposição portuguesa em Montes Claros. No primeiro momento de combate, o exército espanhol avançou sobre as tropas portuguesas com a sua cavalaria, tendo o exército português respondido prontamente com a artilharia de que dispunha, obrigando os esquadrões espanhóis a recuar. Os espanhóis ainda tentariam mais duas cargas de cavalaria sobre as linhas portuguesas, mas a resposta da artilharia nacional, em conjunto com os esforços da infantaria, conseguiriam repelir eficazmente as investidas espanholas. O número de baixas entre o exército espanhol acumulava-se a olhos vistos, e o Marquês de Caracena, antevendo a perda da batalha, emitiria a ordem de retirada, fugindo com o que restava do seu exército em direção a Badajoz. A Batalha de Montes Claros seria a última batalha pela independência de Portugal face às intensões espanholas em restaurar a união dinástica após a aclamação do Rei D. João IV. A 13 de Fevereiro de 1668 seria assinado o Tratado de Lisboa, entre Afonso VI de Portugal e Carlos II de Espanha, onde a Espanha reconheceria a independência a Portugal, devolvendo-lhe Olivença mas ficando com Ceuta em sua posse. Afonso VI haveria apenas de falecer em 1683. No entanto, o seu irmão D. Pedro (futuro Pedro II de Portugal) assumiria as funções de regente do reino a partir de 1668, fruto de um golpe de Estado por si liderado, em que afastaria Castelo Melhor do comando do reino. Afonso VI permaneceria Rei de Portugal durante quase 15 anos, mas sem qualquer ação governativa, até pela sua debilidade física e instabilidade mental. O seu irmão D. Pedro destacar-se-ia neste período por tudo quanto intentou contra o seu irmão Afonso.

Principais pontos a destacar na governação de D. Afonso VI:
• Tenta dinamizar as relações diplomáticas, fortalecendo as relações com Inglaterra, especialmente e apaziguando as relações com os Holandeses;
• Salvaguarda os interesses de Portugal no Brasil, pelo acordo feito com a Holanda;
• Vence a Guerra da Restauração contra Espanha, com o culminar na Batalha de Montes Claros em 1665;
• Assina a paz definitiva com Espanha, pelo Tratado de Lisboa de 1668.

Sem comentários:

Enviar um comentário