sábado, 31 de dezembro de 2016

D. Afonso V "O Africano" (1438 - 1481)

D. Afonso V
Afonso V nasceu em Sintra, a 15 de janeiro de 1432, mas foi obrigado a suceder ao seu pai D. Duarte em 1438, com seis anos de idade. Sua mãe, D. Leonor de Aragão, assumiu a regência do reino durante os primeiros meses, em linha com o expressado no testamento do Rei D. Duarte. No entanto esta regência foi muito criticada, pois Leonor de Aragão era estrangeira, e reacendeu o debate nacionalista que havia surgido décadas antes e que motivaria a ascensão de D. João I. Em 1439 a regência é retirada a D. Leonor, e por decisão das Cortes é entregue a D. Pedro, irmão de D. Duarte e tio de D. Afonso. D. Pedro procurou, como regente, concentrar o poder na figura do Rei. E é na sua regência que são concluídas as Ordenações Afonsinas, a primeira coligação de leis no século XV. Portugal pode prosperar durantes este período, mas devido à centralização de poderes, o ambiente político interno não era o melhor, pois os nobres sentiam a sua ambição condicionada pelo Regente D. Pedro. O ambiente de crispação com os nobres continuaria, e D. Afonso, Conde de Barcelos, meio irmão de D. Pedro, começaria a conspirar pelo poder. Mas D. Pedro, para garantir a influência junto do seu sobrinho (Afonso V), organizaria o casamento deste com sua filha Isabel. Entre 1441 e 1448, continuaria a epopeia portuguesa de exploração marítima. A caravela portuguesa, um novo tipo de embarcação, é a protagonista do avanço português. O Infante D. Henrique, apoiado pelo seu irmão D. Pedro, organiza a chegada ao Cabo Brando (1441), à Baía de Arguim (1443), a chegada ao rio Senegal e a dobragem do Cabo Verde (1444), estes últimos por Dinis Dias. O arquipélago de Cabo Verde apenas seria descoberto mais tarde supostamente em 1456 por Diogo Gomes. Em 1448, a 9 de junho, D. Afonso V assume o governo do Reino ao atingir a maioridade e a 15 de setembro anula todos os editais aprovados durante a regência de seu tio, pondo em causa o trabalho do tio D. Pedro e declarando-o rebelde e inimigo do Reino. O Rei fora aconselhado por seu tio bastardo D. Afonso, já Duque de Bragança, pelo Conde de Ourém e pelo arcebispo de Lisboa para afastar do Governo o seu tio D. Pedro, e aí, Afonso V realiza então uma aliança com o seu tio D. Afonso, para defrontar D. Pedro, Duque de Coimbra, na batalha de Alfarrobeira, a 20 de maio de 1449. D. Pedro seria morto nesta batalha e D. Afonso V e seu tio Afonso sairiam vitoriosos. D. Afonso, Duque de Bragança, com a morte de D. Pedro, aumentou ainda de forma mais considerável o seu poder de influência junto do Rei. Afonso V passa a concentrar a sua atenção nas questões da expansão territorial no Norte de África. A 18 de junho de 1452, o Papa Nicolau V emite a Bula Dum Diversas, autorizando os portugueses a conquistar territórios não cristianizados, assim como a tomar como escravos qualquer pagão ou muçulmano presentes nos novos territórios capturados. Com a queda de Constantinopla em 1453 e o pedido de cruzada pelo Papa Calisto III em 1456, Afonso V prepara um grande exército, mas como a cruzada acaba por não ocorrer, D. Afonso V retoma finalmente a campanha no Norte de África e conquista Alcácer Ceguer (1458), Anafé (1464) e Arzila, Tânger e Larache (1471). Em 1460, morre o Infante D. Henrique e as viagens de exploração marítima não voltaram a ter continuidade ao longo do reinado de Afonso V, que para além da guerra e da expansão territorial, se viria a mostrar muito pouco preocupado com o desenvolvimento do comércio e a administração do Reino. Já em 1469, nove anos após a morte do Infante D. Henrique, D. Afonso V concede por arrendamento o monopólio do comércio no golfo da Guiné a Fernão Gomes da Mina, durante cinco anos, em troca de uma renda anual e comprometendo-se Fernão Gomes a avançar a exploração da costa da Guiné em 100 léguas ao ano. Fernão Gomes iria promover a exploração da costa atlântica de África, chegando ao cabo de Santa Catarina. Em 1471 chegaria à Mina, onde descobriu o comércio do ouro, e com os lucros obtidos, Fernão Gomes pode financiar a campanha de 1471, onde Afonso V conquistaria as três praças marroquinas já mencionadas. Com a campanha africana terminada, Afonso V orientou a sua atenção para a política a nível da Península Ibérica. O Rei Henrique IV de Castela viria a falecer em 1474, deixando como única herdeira sua filha D. Joana. Mas o Rei Henrique IV era tido como homossexual, pelo que a nobreza e o clero não acreditavam que D. Joana fosse filha do Rei. É aí que parte do clero e da nobreza elegem como favorita ao trono D. Isabel, irmã de D. Henrique e tia de D. Joana. Afonso V interfere neste processo, e em 1475 casa com D. Joana de Castela e assumindo a sua pretensão ao trono. Afonso V decide invadir o Reino de Castela, mas a campanha militar resulta num fracasso. As forças castelhanas estavam divididas em dois blocos: o bloco afeto à princesa D. Joana e o bloco afeto a D. Isabel. O Rei de Aragão, Fernando II, apressa-se a casar com D. Isabel para garantir também o seu direito ao trono. Na batalha de Toro ocorre um dos pontos altos desta crise, com ambos os blocos militares a se defrontarem, a 1 de março de 1476, entre um número de forças muito semelhante para ambos os lados. Apesar do resultado da batalha ter sido inconclusivo, do ponto de vista estratégico marcou o destino de Portugal: o Reino de Aragão acabaria por se unir ao Reino de Castela (Afonso V teria ainda tentado obter o apoio incondicional de Luís XI de França, mas não conseguindo obter esse apoio, regressaria a Portugal extremamente abatido. O Rei Francês acabaria por preferir reconhecer o direito ao trono de Fernando II e de Isabel, em troca destes romperem a sua aliança com o Duque de Borgonha, o seu principal inimigo, algo que resultou num sério revés diplomático para Portugal, dado que no início do conflito Portugal havia conseguido o apoio da França). Afonso V assina o Tratado de Alcáçovas, a 4 de setembro de 1479, colocando fim à Guerra de Sucessão de Castela. Este tratado foi ratificado em Toledo a 6 de março de 1480, formalizando o fim das hostilidades entre Portugal e Castela, e abdicando Afonso V de procurar legitimar a sua pretensão sobre o trono de Castela. Castela, por sua vez, abdicaria de quaisquer direitos sobre a exploração a sul do Cabo Bojador, ficando Portugal com todas as suas posses e Castela apenas com as ilhas Canárias. A assinatura deste Tratado e os eventos anteriores ao mesmo contribuíram para provocar uma depressão em Afonso V. O Rei abdicaria a favor do seu filho, o futuro Rei D. João II de Portugal, e Afonso V morreria em Sintra em 1481.

Principais pontos a destacar na governação de D. Afonso V:
• Instabilidade política interna e perseguição ao seu tio D. Pedro;
• Conquistas no norte de África, com a anexação de várias praças;
• Continuação das descobertas ao largo da costa africana;
• Falta de visão no desenvolvimento administrativo do Reino;
• Derrota na Guerra da Sucessão de Castela, perdendo a hipótese de ser o primeiro Rei Português a governar Castela.

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