sábado, 31 de dezembro de 2016

D. Afonso IV "O Bravo" (1325-1357)

D. Afonso IV
D. Afonso IV subiria ao trono a 7 de fevereiro de 1325, no seguimento da morte de seu pai, tornando-se o sétimo rei de Portugal. Como referido no capítulo anterior, Afonso IV receava que seu pai D. Dinis legasse a sua sucessão num dos seus filhos bastardos: D. Afonso Sanches. A rivalidade entre Afonso IV e Afonso Sanches originou diversos conflitos internos, pelo que após a coração de Afonso IV, a sua primeira decisão a tomar foi o exílio de seu meio-irmão para Castela. Além do mais, Afonso IV retirou-lhe todos os legados deixados por D. Dinis, levando à revolta novamente de Afonso Sanches que em Castela planeou várias manobras políticas e militares com o fim de invadir Portugal e tornar-se ele próprio rei. As tentativas de invasão saíram falhadas, e ambos os irmãos acabariam por assinar um tratado de paz, sob alçada da Rainha Isabel. O Rei D. Afonso IV era um homem de personalidade forte e austera, que apesar de não ser muito amado pelo povo, era bastante respeitado como Rei. Acabou por legislar leis que viriam a interferir com a vida privada dos portugueses, colocando em causa costumes antigos. Como o país fica de uma guerra civil, e os tumultos populares corriam risco de ressurgir, o Rei optou por reunir as cortes em Évora, para obrigar os representantes do clero e da nobreza a jurarem-lhe lealdade enquanto Rei. Depressa se seguiria mais um outro episódio que reforçaria o carácter de personalidade vincada do Rei. Afonso IV havia casado em 1309 com a infanta Beatriz, filha do rei Sancho IV de Castela, tendo da união resultado 8 filhos, dois dos quais a filha primogénita, D. Maria e o futuro rei D. Pedro I. A sua filha primogénita, D. Maria de Portugal, haveria de ser a causa de uma nova crise com Castela, dado que ao tornar-se esposa de Afonso XI de Castela em 1328, viria a ser maltratada publicamente por este. D. Afonso XI de Castela trairia sua esposa com Leonor de Gusmão, de quem teve vários filhos, causando grande mal-estar entre as duas coroas. D. Afonso IV, tendo conhecimento dos diversos maltratos e humilhações sofridas pela sua filha, resolveu atacar a fronteira de Castela em retaliação. Só em 1339, e fruto da intervenção da própria D. Maria de Portugal, haveria de ser assinado o Tratado de Sevilha, pondo termo à guerra entre os dois reinos. D. Maria de Portugal, recolhida num convento em Sevilha, fora pressionada por seu marido Afonso XI para apelar ao Rei de Portugal, seu pai, a fim de colaborar com Castela numa aliança contra os muçulmanos. Este apelo a uma união entre Portugal e Castela resultou no seguimento da aliança firmada entre o Rei de Fez e de Marrocos, com o emir de Granada, onde ambos decidiram reconquistar os territórios perdidos para os cristãos na Península Ibérica. Castela que havia perdido parte significativa da sua esquadra marítima numa tempestade, ficara com as suas defesas debilitadas face a uma possível ofensiva muçulmana, pelo que Afonso XI haveria de se humilhar e engolindo o seu orgulho ferido acabaria por se dirigir a D. Maria de Portugal, pedindo a intervenção desta junto de seu pai para que o Rei de Portugal pudesse enviar uma esquadra em socorro de Castela. D. Maria acedeu ao pedido, mas Afonso IV de Portugal haveria de responder ao Rei de Castela que se este precisasse de ajuda, que haveria de lhe pedi-la diretamente. Afonso XI assim o fez, enviando diretamente uma carta ao Rei de Portugal, e Afonso IV, que ainda se reuniria pessoalmente com Afonso XI em Évora, acabaria por consentir o envio da frota comandada pelo almirante genovês Manuel Pessanha, para além de reunir em Elvas o maior número possível de cavaleiros e peões. A 30 de outubro de 1340, a aliança entre tropas portuguesas e castelhanas contra os mouros iria provar a sua viabilidade naquela que ficou conhecida como a Batalha do Salado, por ter ocorrido junto à ribeira com o mesmo nome, em Cádis. A 29 de outubro, ambos os Reis de Portugal e Castela, presentes no conselho de guerra, decidiram a tática a adotar: o Rei de Castela combateria o Rei de Marrocos e o Rei de Portugal o emir de Granada. O Rei de Portugal seria acompanhado pelo arcebispo de Braga, o prior do Crato, o mestre da Ordem de Avis e muitos outros cavaleiros pertencentes à nobreza. A batalha iniciaria no dia seguinte, e as tropas portuguesas haveriam de enfrentar muitas dificuldades dado que as tropas de Granada eram mais disciplinadas e organizadas que as de Marrocos, para além de que combatiam com a motivação de defender aquele que ainda era o seu território (Cádis, no sul de Espanha, estava então sob controlo dos muçulmanos). D. Afonso IV e seus cavaleiros, num momento crítico da batalha, conseguiriam romper a formidável barreira inimiga e espalhar a desordem entre o exército muçulmano que bateu em retirada. Do campo de batalha, os Reis cristãos haveriam de retirar valiosíssimos tesouros como ouro e prata, que Afonso XI deu a escolher a Afonso IV de Portugal, em “quantidade e qualidade”, como sinal de agradecimento por toda a ajuda. Esta batalha teve um grande impacto sobre as pretensões muçulmanas na Península Ibérica, pois não apenas desmoralizou por completo os seus objetivos sobre as terras cristãs, como garantiu que Portugal mantivesse a sua própria integridade territorial, afastando de vez as ameaças sobre o seu território. D. Afonso IV revelou-se decisivo na batalha, e como tal ganharia o cognome de “o Bravo” pelos seus feitos em conjunto com a sua cavalaria, garantindo a vitória das forças cristãs. Após esta batalha, o Rei dedica-se durante algum tempo aos assuntos da governação do Reino, mas começam a surgir diversos contratempos e dissabores para o Rei. Em 1343, apenas 3 anos depois da famosa Batalha do Salado, haveria Portugal de enfrentar uma escassez enorme de cereais. Um ano mais tarde, navegadores portugueses haveriam de realizar as primeiras viagens de exploração no oceano atlântico, tendo chegado às Canárias em 1344, ficando para a história o grande contributo de Afonso IV, para a realização das primeiras viagens de exploração marítima e o desenvolvimento da atividade mercantil. No entanto, Castela haveria de conseguir do Papa a atribuição deste domínio territorial, ficando senhora das ilhas Canárias. Em 1347, um sismo abalaria Coimbra causando enormes prejuízos, e mais grave ainda, em 1348 a praga que assolava a Europa chegaria também a Portugal: a peste bubónica (mais conhecida por peste negra). Esta praga foi o problema mais grave que o Rei Afonso IV haveria de enfrentar no seu reinado, pois vitimaria grande parte da população portuguesa causando grande desordem. Estima-se que a praga de peste negra na Europa tenha dizimado cerca de 75 milhões de pessoas durante o século XIV (cerca de metade da população europeia, mas apesar deste número não ser consensual entre muitos investigadores, é o número mais defendido por muitos historiadores). A peste chegaria em Portugal em pleno outono, tendo matado entre um terço a metade da população do país. A sociedade portuguesa vivia um período caótico, e as Cortes convocadas em 1352 viriam finalmente a permitir a restauração da ordem no país. Mas já com o país a recuperar da praga da peste, D. Afonso IV viria a enfrentar novos dias de desassossego. O rei castelhano viria a falecer vítima da peste negra, e o reino vizinho viria a enfrentar uma guerra civil pelos direitos à sucessão, entre D. Pedro I de Castela e seu meio-irmão D. Henrique, levando à presença de um cada vez maior número de refugiados castelhanos em Portugal. Entre esses refugiados ou exilados, encontravam-se vários nobres castelhanos que procuraram criar o seu espaço de influência junto da Corte portuguesa. E mais tarde, com Inês de Castro que era filha do mordomo-mor do rei D. Afonso XI de Castela, ao tornar-se amante do príncipe herdeiro D. Pedro, os nobres castelhanos cresceriam ainda mais em poder junto da Corte portuguesa. Para compreendermos melhor este contexto, importa referir que D. Pedro se haveria de casar com D. Constança Manuel, filha de D. João Manuel de Castela, neto do rei Fernando III de Castela. D. Constança ao vir para Portugal, traria como uma das suas aias Inês de Castro, futura amante e paixão do infante D. Pedro. Ao iniciar-se a relação entre D. Pedro e D. Inês, e dado que nasceram vários filhos desta relação, Afonso IV de Portugal decidiu exilar Inês de Castro no castelo de Albuquerque, junto à fronteira castelhana. Mas após a morte de D. Constança, no seguimento do nascimento do único filho, o futuro Rei D. Fernando, D. Pedro pede a Inês de Castro para regressar do seu exílio, passando ambos a viver juntos. Conta-se que a família de Inês de Castro planeava assassinar o infante D. Fernando, o herdeiro legítimo de D. Pedro para que o trono português ficasse entregue ao filho mais velho de D. Inês. Cada vez mais pressionado pela corte portuguesa, D. Afonso IV decidiu que o melhor a fazer seria executar Inês de Castro. A execução ocorreria no início de 1355, levando à revolta de D. Pedro contra o seu pai, que entraria em guerra, saqueando inclusive a região do norte de Portugal, nomeadamente do Minho. A Rainha D. Beatriz viria a intervir junto de ambos os lados e selando a paz entre pai e filho em agosto de 1355, mas a reconciliação definitiva só chegaria em 1357 com a entrega de grande parte do poder executivo a D. Pedro. D. Afonso IV viria a falecer nesse mesmo ano.

Principais pontos a destacar na governação de D. Afonso IV:
• Promove um ambiente belicista entre si e o seu meio-irmão Afonso Sanches;
• Declara guerra a Castela em virtude das humilhações sofridas pela sua filha;
• Mais tarde, torna-se aliado de Castela para derrotar a ameaça muçulmana na Batalha do Salado;
• É confrontado com a crise dos cereais, enfrentando um povo faminto e assolado pela peste negra;
• Desenvolve a marinha mercante portuguesa e descobre as ilhas Canárias;
• Ordena a execução de Inês de Castro e inicia um conflito com seu filho D. Pedro.

Sem comentários:

Enviar um comentário