sábado, 31 de dezembro de 2016

D. João I "O de Boa Memória" (1385 - 1433)

D. João I
D. João nasceu em Lisboa, a 11 de abril de 1357, e foi o décimo Rei de Portugal, sendo o primeiro da dinastia de Avis, filho bastardo do Rei D. Pedro I e meio-irmão de D. Fernando I. Após a morte de D. Fernando, o Rei de Castela, também ele D. João I, achou-se no direito de exigir o trono de Portugal, dado que estava casado com D. Beatriz, a única filha do Rei D. Fernando I. A morte de Fernando I de Portugal permitiu entregar a regência do reino à sua esposa, a Rainha D. Leonor Teles de Menezes. Esta tornou-se extremamente impopular junto da sociedade portuguesa quando ficou a conhecer-se, publicamente, o seu relacionamento amoroso com o nobre galego João Fernandes Andeiro. A sociedade portuguesa dividiu-se então em dois grandes partidos: um a favor de D. Beatriz como Rainha de Portugal, consolidando apoios principalmente junto das classes mais favorecidas e nobres, e outro, chefiado por D. João, Mestre de Aviz, que lutou contra a entrega do trono português a um Rei estrangeiro. O movimento de D. João tornou-se particularmente popular, obtendo o apoio da burguesia e do povo português. O apoio de base popular conferido a D. João, permitiu-lhe ganhar confiança suficiente para lutar sem qualquer complexo pelo trono português. É então que no final de 1383, e estando ciente do descontentamento crescente do povo português, a sua base popular de apoio, o Mestre de Aviz orquestra o assassinato do conde de Andeiro, e com o apoio de diversos fidalgos, consegue obrigar D. Leonor Teles a fugir de Lisboa. Foi este momento que permitiu abrir portas a D. João para ser proclamado regedor e defensor do Reino de Portugal, lançando assim o movimento monárquico na sua segunda dinastia, a de Aviz. No seguimento destes eventos, e já no final de Dezembro de 1383, João I de Castela decidiu invadir Portugal pela Guarda, determinado a cumprir o seu sonho e tornar Castela e Portugal num só reino, unido em torno de uma coroa e de um único Rei. Neste período, estala a guerra civil em Portugal, com várias cidades e vilas a declarar apoio à Rainha D. Leonor Teles, outras a declarar apoio a D. Beatriz, legítima herdeira do Rei D. Fernando e esposa de João I de Castela, e outras ainda ao Mestre de Aviz. Com o apoio dividido em três frentes distintas a lutar pela pretensão ao trono português, D. João I de Castela mantém a sua rota rumo a Lisboa, conseguindo mesmo montar cerco à cidade durante quase um ano, entre fevereiro e outubro de 1384. O cerco acabou por não surtir os efeitos desejados para Castela, dada a determinação dos portugueses em resistir, aliado à boa estrutura defensiva de Lisboa, aos alimentos que conseguiam chegar via Porto e à epidemia de peste negra que assolou as forças castelhanas. Mais ainda, D. Nuno Álvares Pereira, um apoiante do Mestre de Aviz e futuro Condestável de Portugal (segunda mais elevada patente militar no reino, apenas suplantada pelo próprio Rei), viria a revelar-se um general de grande eficácia, conseguindo diversas vitórias em prol do futuro Rei D. João I. Uma dessas vitórias ocorreu na conhecida Batalha dos Atoleiros, disputada a 6 de abril de 1384, junto a Fronteira, no Alentejo. D. Nuno Álvares Pereira tinha sob seu comando cerca de 1.500 homens e enfrentaria as forças castelhanas com cerca de 5.000 homens, dos quais 2.000 eram cavaleiros. O primeiro movimento de ataque pertenceria à cavalaria castelhana, tendo D. Nuno optado por dispor as suas tropas em formato de retângulo, com a maioria dos seus lanceiros na vanguarda. Foram estes que contiveram o primeiro ataque da cavalaria castelhana, causando grandes baixas ao exército inimigo. Após a segunda investida castelhana, já com as forças de infantaria, as linhas defensivas portuguesas atuaram com grande coragem e não permitiram qualquer avanço aos invasores. Aí, as tropas castelhanas desmoralizaram e desorganizaram-se, tendo as forças de D. Nuno iniciado a sua perseguição. A Batalha dos Atoleiros foi a primeira batalha na Península Ibérica a utilizar novas táticas de defesa pelas forças de infantaria em inferioridade numérica contra as forças de cavalaria pesada em maior número. É também de realçar que as forças portuguesas sofreram um número de baixas bastante reduzido (há registos que apontam até para a inexistência de baixas do lado português), o que foi encarado pelos soldados como uma manifestação divida e uma prova em como Deus muito provavelmente apoiaria os portugueses na causa da defesa contra a invasão dos castelhanos. A 6 de abril de 1385, em Coimbra, as Cortes portuguesas aí reunidas proclamam D. João I como Rei de Portugal, num dos primeiros gestos democráticos de eleição de um sucessor de um Rei na Europa. Estando três candidatos a disputar o trono Português – D. João I de Castela, D. João filho de D. Pedro e de Inês de Castro, e D. João, Grão-Mestre de Aviz, filho de D. Pedro e D. Teresa, o legista João das Regras apresenta de forma brilhante a exclusão de D. João filho de Inês de Castro (ao ler a carta do Papa Inocêncio VI em que se recusava a legitimar os filhos da união entre D. Pedro e D. Inês) e propondo abertamente o Mestre de Avis para Rei de Portugal. D. João tornar-se-ia D. João I, sendo eleito por “unida concordança de todos os grandes e comum povo”, segundo Fernão Lopes. Em 1387 D. João I casaria com D. Filipa de Lancaster, filha do Duque de Lancaster, fortalecendo ainda mais os termos do Tratado de Aliança Luso-Britânica (ou Aliança Anglo-Portuguesa, estabelecida em 1373, e renovada em 1386 com a assinatura do Tratado de Windsor assinado entre João I de Portugal e Ricardo II de Inglaterra). Deste casamento nascerá aquela que ficou conhecida por a “Ínclita Geração”, com o nascimento dos descendentes D. Duarte, D. Pedro, D. Henrique, D. Isabel e D. Fernando, que contribuíram em muito para o desenvolvimento de Portugal enquanto país e sociedade, deixando profundas marcas na nossa história, perdurando muitas delas até aos dias de hoje. A influência de Filipa de Lancaster foi de assinalar no que diz respeito às relações comerciais entre Portugal e Inglaterra, com o crescimento das importações portuguesas de vestuário ou bacalhau e as exportações de cortiça, vinho, azeite ou sal. No seguimento da eleição de D. João I, o Rei de Castela decide invadir pela 2ª vez Portugal, com o objetivo de tomar Lisboa e destronar o Mestre de Aviz. Mas desta vez o exército castelhano é acompanhado por um grande contingente de cavalaria francesa, dado que à época, Castela e França eram aliados em virtude do decurso da Guerra dos 100 anos. É aí que D. Nuno Álvares Pereira, já nomeado Condestável de Portugal, começa a preparar com D. João I uma grande armadilha ao exército adversário, com o apoio do exército inglês. A 14 de agosto de 1385 trava-se a decisiva batalha de Aljubarrota. O exército castelhano possuía uma vantagem de recursos de 4 para 1, mas foi praticamente aniquilado pelo exército português e pelos seus aliados ingleses. As forças castelhanas eram comandadas pelo Rei D. João I de Castela e pelo irmão de D. Nuno Álvares Pereira (neste caso Pedro Álvares), e deveriam ter uma dimensão próxima de cerca de 31 mil homens. Antecipando-se aos castelhanos, D. Nuno Álvares consegue procurar o terreno ideal para uma batalha onde partiria em desvantagem a nível de recursos, e acabaria por dispor as tropas portuguesas ao redor de uma colina, de frente para a estrada que traria os castelhanos ao seu encontro. O exército castelhano acabaria por chegar por volta do meio-dia, sob o Sol abrasador de agosto. No entanto, o confronto só se iniciaria por volta das 6 da tarde, com uma carga da cavalaria francesa sobre as linhas portuguesas. O exército português conseguiu repelir facilmente o ataque, e D. João I assistia ele próprio na retaguarda ao início da batalha e à vantagem que a configuração estreita do terreno dariam às forças portuguesas e inglesas. Com o falhanço da carga francesa, os castelhanos decidem optar por um ataque frontal com a sua infantaria, algo que também é neutralizado pela alteração da disposição das linhas portuguesas, que causou o esmagamento por entre os flancos portugueses, originando a debandada do exército castelhano do campo de batalha. Antes do pôr-do-sol a batalha estava ganha para os portugueses. Na batalha, morreram tantos nobres castelhanos que o reino vizinho ficou de luto durante quase dois anos. E aproveitando a vantagem conferida para o lado português no decurso da Batalha de Aljubarrota, D. Nuno Álvares Pereira decide, em pleno outubro de 1385, invadir Castela, entrando por Badajoz e seguindo em direção a Mérida, para que as forças castelhanas o defrontassem. Esta batalha ficaria conhecida para a história como a Batalha de Valverde, e a vitória seria também conseguida para o lado português, salvaguardando a coroa portuguesa e o reinado de D. João I, levando à assinatura de um tratado de aliança e paz em 1411, e oficializando o reconhecimento de Castela por D. João I como Rei de Portugal. Com a morte de D. João I de Castela em 1390, D. João I de Portugal pôde dedicar-se ao desenvolvimento económico e social do país. A partir daqui, o Rei de Portugal começaria uma política de centralização da governação, espaçando as reuniões das cortes, procurando reduzir a influência da nobreza e do clero, e apropriando-se inclusivamente dos bens daqueles que foram favoráveis ao apoio a Castela aquando da crise de sucessão. Em 1412 associa ao governo do reino o seu filho D. Duarte, futuro Rei de Portugal. E em 1415, D. João I, apoiado pelos seus filhos D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique decidem iniciar a expansão territorial portuguesa além-fronteiras, com a conquista de Ceuta a 22 de agosto de 1415. Ceuta era uma cidade islâmica e rica no norte de África, com terrenos de cultivo bastante férteis em seu redor, que concentrava em si uma parte significativa do tráfego comercial do Mediterrâneo ocidental. A conquista de Ceuta permitira também controlar o estreito de Gibraltar, e a consequente entrada e saída dos navios entre o oceano Atlântico e o mar Mediterrâneo, impedindo também os ataques às cidades do Algarve com base nos piratas oriundos ou baseados em Ceuta. Foram muitas as causas que levaram à conquista de Ceuta, desde económicas, religiosas, políticas ou geoestratégicas, mas o que é certo, é que esse acontecimento marcaria profundamente a história do nosso país, pois marcou uma nova política de expansão territorial de Portugal, apelando ao desenvolvimento da tecnologia naval e militar. A batalha de conquista de Ceuta foi uma batalha extremamente rápida e a conquista do território revelou-se um êxito militar. A 21 de agosto o desembarque de 212 navios ao largo de Ceuta foi realizado, e no dia seguinte Ceuta caía nas mãos portuguesas, sem grande resistência por parte dos muçulmanos, onde as forças portuguesas beneficiaram largamente do efeito surpresa e principalmente da não mobilização atempada dos exércitos muçulmanos. Na primeira missa realizada em Ceuta, os três príncipes da Ínclita geração foram nomeados cavaleiros pelo seu pai. Com o sucesso desta vitória, iniciaram-se também os “Descobrimentos” portugueses: a ilha de Porto Santo (1418), a Ilha da Madeira (1419) e os Açores (1427) seriam os próximos territórios a serem anexados ao domínio da coroa portuguesa. E o povoamento dos arquipélagos dos Açores e da Madeira é iniciado inclusivamente prontamente. Ainda no reinado de D. João I, o Rei organizaria também expedições às já conhecidas Ilhas Canárias. D. João I viria a falecer a 14 de agosto de 1433, sendo sepultado no Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha.

Principais pontos a destacar na governação de D. João I:
• Inicia a dinastia de Aviz;
• Vence a guerra com Castela e garante a independência de Portugal;
• Aprofunda a aliança com os ingleses via assinatura de Tratado de Windsor e casamento com Filipa de Lancaster;
• Desenvolve a melhoria das condições económicas do país;
• Inicia a expansão portuguesa, com a conquista de Ceuta e os primeiros descobrimentos.

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